Sexta, 19 de novembro de 2021
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (II Tim 2:15).
Quem deseja se ingressar na obra de Deus, antes de qualquer coisa deve se apresentar a ele. Pois ele é o dono da obra; é ele quem aprova ou reprova os candidatos interessados no trabalho que ele oferece.
“Procura” – Essa expressão tem os seguintes significados: se interesse, se esforce, se importe, se preocupe. É tudo isso que Paulo está incentivando Timóteo a fazer. Timóteo já era um obreiro militante, já possuía algumas experiências ministeriais, mas precisava estar atento aos perigos que lhe rodeavam, inclusive as ofensivas dos contenciosos (vs. 14,16,23,24). Paulo o exorta a se preocupar no seu procedimento diante de Deus e no seu relacionamento com a igreja de Deus e até com algumas pessoas sem Deus.
“Apresentar-te a Deus” – Essa expressão tem os seguintes significados: se colocar diante de Deus, se mostrar a Deus, se manifestar para Deus, se submeter a apreciação de Deus, se oferecer para Deus. Ao se encontrar com o Senhor Jesus nos portões de Damasco a primeira disposição de Paulo foi se apresentar para ele com a seguinte expressão: “Senhor, que queres que eu faça?” No ato da sua conversão, ele se apresentar a Cristo disposto a servi-lo. A ideia é: se tanto fiz contra ti, mais ainda quero fazer por ti.
Criando condições propícias – Em caráter gramatical, o contexto da frase “Apresentar-te a Deus” está na parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20). Aqueles homens que ficaram o dia todo na praça não seriam contratados se não estivessem lá. Aquele lugar pode ser comparado hoje em dia como uma agência de emprego, onde os candidatos vão se oferecer para trabalhar. Era ali onde, quem demandava um emprego deveria se apresentar.
Quando Deus buscou alguém para ser seu porta-voz, para falar em seu lugar, Isaías apresentou-se, se oferecendo para a missão, com as seguintes palavras: “envia-me a mim” (Is 96:8). Assim como Timóteo já era um obreiro militante, Isaías também já era profeta. Isso significa que, diante de Deus, a carreira de um obreiro é um contínuo recomeço. Ele precisa sempre estar se apresentando a Deus para se aprimorar e também para desenvolver novas tarefas.
Na economia de Deus há diversas formas de ele agir. Há momentos em que ele chama a quem nunca esperava ser chamado, mas há casos em que os interessados devem se apresentar e mostrar interesse no chamamento. Acerca disso Paulo declarou: “Quem deseja o episcopado, excelente obra deseja” (I Tm 3:1); mas, a seguir, ele descreve as exigências para quem deseja ocupar esse cargo. Trata-se de qualidades básicas que Deus exige dos que desejam exercer o santo ofício.
Aquele que se candidata ao ministério deve, no mínimo, além de possuir as qualidades previstas no conselho de Paulo, estar ciente do que está desejando. Pois o ministério não é vivido apenas de rosas, mas também de espinhos – mais espinhos do que rosas. A questão é que, quem está de fora só ver as rosas - os espinhos ficam escondidos no meio da folhagem. As rosas, por serem belas se destacam mais que os espinhos. Por isso elas são vistas com mais facilidade. Por outro lado, embora os espinhos sejam pequenos e feios, são muitos. E, no entanto, quem adquire as rosas tem que carregar os espinhos. Pois não existe rosa sem espinhos.
Os prejuízos que os espinhos dão, não são reparados pelas rosas. Mas mesmo assim, vale a pena cultivar o jardim. Pois a grande recompensa do obreiro, não é recebida aqui, mas na eternidade, conforme diz Paulo em II Timóteo 4:8. É por isso que, quem deseja desenvolver carreira ministerial deve estar convicto de que está preparado para suportar, com paciência, os espinhos, porque eles certamente virão junto com as rosas.
O termo “aprovado” significa “julgado bom” ou “autorizado”; significa também “habilitado em exame”; indica que o candidato passou por um rigoroso exame, e nada foi encontrado que o reprovasse; quer dizer que o candidato foi considerado apto para o cargo que pretende exercer. É exatamente isso que Paulo quer dizer com a palavra “aprovado”.
Para ser aprovado, antes tem que ser provado. Pois Deus prova aquele que pretende dar uma missão. Ele não comissiona ninguém, sem que antes o submeta a uma prova. É ele quem examina; é ele quem prova; é ele quem declara o candidato aprovado ou reprovado. Cabe ao ministério apenas homologar a decisão de Deus.
A fim de nos dar exemplo, até o Senhor Jesus Cristo precisou se submeter ao exame divino. Ele não precisava ser batizado nem passar por qualquer exame para ser aprovado, mas quis cumprir a justiça divina (Mt 3:15).
Em Mateus 4:1, lemos que o Espírito conduziu o Senhor Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. O termo “tentado” equivale a dizer, “provado”. E em Hebreus 4:15 lemos que em tudo ele foi tentado, mas sem pecado. E em Atos 2:22 Pedro declara que ele foi aprovado por Deus. Ora, se até o Senhor Jesus precisou ser provado para receber a missão que Deus lhe deu, quanto mais nós que somos rodeados de fragilidades.
No círculo empresarial, nenhuma empresa de prestígio contrata qualquer funcionário sem que antes o submeta a um exame, a uma prova. O mesmo procedimento é feito nas instituições públicas, onde o candidato se submete ao chamado “concurso público”.
Obreiro aprovado significa obreiro preparado, habilitado para o serviço que pretende desenvolver. O mito de que Deus escolhe homens sem preparo para depois prepara-lo se desfaz quando é contrastado com esse versículo.
Deus quer ver no homem o mínimo de preparo, para, desse mínimo, ele fazer o máximo. Deus trabalha a partir do mínimo que lhe é oferecido. Ele usa o efeito de multiplicação. Para alimentar cerca de cinco mil pessoas o Senhor Jesus usou dois peixes e cinco pães (Mc 6:38).
Embora o candidato ao ministério precise satisfazer as exigências morais para ser considerado aprovado, não é isso que Paulo tem em mente no texto em apreço. O sujeito simples e claro de II Timóteo 2:15 é o próprio Timóteo. Suas qualidades morais eram bem conhecidas por Paulo. A exortação de Paulo gira em torno de questões intelectuais e volitivas. Ele não quer que Timóteo perda tempo com debates e falatórios inúteis, mas que se dedique em ensinar aqueles que desejam conhecer, no mais alto grau, a revelação divina.
Não basta ser aprovado somente pelo homem – Muitos prejuízos a igreja já sofreu por cair nas mãos de obreiros aprovados pelo homem, porém reprovados por Deus. Mas isso não é coisa somente dos nossos dias. O próprio Paulo se decepcionou com alguns obreiros que, aparentemente foram aprovados por ele, mas reprovados por Deus. Ele mesmo se queixa disso (II Tim 4:10,14; II Co 11:13).
Para ser aprovado pelo homem o obreiro só precisa agradá-lo, fazendo aquilo que ele gosta, procedendo da maneira que ele prescreve. Esse critério não muda quando se trata de querer agradar a Deus, a fim de por ele, ser aprovado. Pois não basta ser aprovado pelo homem, sobretudo, precisa também ser aprovado por Deus.
Rumo à perfeição – Por perfeição, não me refiro à perfeição de Deus, que é absoluta, mas a perfeição humana, que é relativa. Isso quer dizer que, por mais que o homem se aperfeiçoe nunca atingirá a infinita perfeição de Deus.
Embora o Senhor Jesus incentivasse seus discípulos a buscar a perfeição nos padrões de Deus (Mt 5:48), ele não esperava que isso fosse possível. Ele apenas estava apontando para a perfeição de Deus como um ponto de referência para a perfeição humana.
Se compararmos nossa perfeição com a de Deus, nunca teremos motivos para nos gloriar; muito pelo contrário, estaremos sempre nos sentindo incompletos diante de Deus. Foi nesse contexto que o Senhor Jesus disse: “Bem-aventurado os que têm fome e sede de justiça” (Mt 5:6). Em paráfrase: felizes os que nunca estão contentes com seus padrões de justiça.
O homem, por ser inacabado, incompleto, não sabe, de maneira absoluta. Somente Deus sabe de maneira absoluta. Quanto a isso o apóstolo Paulo disse: “em parte conhecemos e em parte profetizamos” (I Co 13.9). Com essas palavras ele está nos dizendo que a nossa ciência é parcial e até a nossa profecia é imperfeita (I Cor 13.9-12). Isso quer dizer que, tudo aquilo que vem de Deus, ao passar pelo homem perde qualidade. Daí a razão de vivermos num constante processo de aprendizado e crescimento ascensional rumo ao infinito. O obreiro que tem consciência disso nunca se gloriará das suas qualidades. Pois aqueles que se gloriam, pensando que atingiu o zênite da perfeição ministerial, dão boa prova de que estão reprovados por Deus (II Cor 10:18).
Não existe obreiro completo, totalmente acabado. A vida ministerial deve ser vivida num constante aprendizado. O obreiro nunca deve se contentar com o que sabe nem com o que é. Ele deve viver numa constante perseguição do conhecimento e do aperfeiçoamento moral e intelectual. É por isso que Paulo incentiva Timóteo a “ler, exortar e ensinar” (I Tm 4:13). Observe que primeiro ele manda “ler”, e só depois, “exorta e ensinar”. Isso nos faz saber que Timóteo devia ter fácil acesso a bons livros.
O próprio Paulo não se apartava de bons livros. Embora percebendo que havia chegado ao final da sua carreira; pois sentia que a sua morte se aproximava, ordena a Timóteo que, quando viesse lhe visitar na prisão de Roma, lhe trouxesse seus livros (II Tm 4:13). Ele só pede duas coisas: uma capa surrada que havia deixado na casa de Carpo e os seus livros.
Na prisão fazia muito frio e Paulo precisava se agasalhar melhor. Embora ele tivesse com quem se comunicar na prisão, não havia ali ninguém suficientemente capaz de lhe transmitir qualquer tipo de conhecimento que pudesse alimentar sua alma e enriquecer sua mente.
Esta é a única herança material que este grande herói da fé cristã deixa: uma velha capa e alguns livros. No aspecto material, ele não deixou nada que tivesse algum valor relevante, mas no aspecto espiritual, ele nos deixou uma grande herança de valor incalculável. Embora sendo pobre enriqueceu a muitos (II Cor 6:10). Até no seu legado material ele imitou o Senhor Jesus, deixando apenas uma capa usada (Jo 19:24).
O ser humano é a única criatura que Deus criou incompleta, inacabada. Deus fez o homem menor e lhe deu o livre-arbítrio para que ele se fizesse maior. A busca pelo conhecimento, especialmente das verdades divinas reveladas nas Escrituras é tarefa do homem. Pois Deus não simpatiza com pessoas que não se interessa em conhecê-lo em graus mais altos. Acerca disso o profeta Amós declarou: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor” (Os 6:3).
Ao criar o homem, Deus o presenteou com alguns atributos, a fim de que, por si só ele evolvesse rumo à perfeição. Mas na sua trajetória rumo à perfeição ele encontrou a serpente, e o seu processo de evolução foi sustado. Agora, na nova criação em Cristo Jesus, através do novo nascimento, ao homem foi dada a oportunidade de retomar aquilo que, durante milênios ficou estagnado.
Por se envergonhar, Paulo se refere ao obreiro inapto e relapso. “Não ter de que se envergonhar” tem a ver com pureza de consciência. O obreiro precisa saber responder com segurança qualquer indagação acerca do seu procedimento e da revelação divina. De acordo com I Pedro 3:15, essas respostas devem ser dadas com mansidão. Paulo diz que “ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor” (II Tm 2:24). Para Paulo, o obreiro que não possui esses requisitos está na categoria de obreiro réprobo.
Obreiro inapto e obreiro relapso – O obreiro inapto se aventura a atos inseguros e duvidosos - lança-se em projetos insustentáveis, colocando em risco seu prestígio e a moral da igreja; age motivado instintivamente pela emoção sem pensar nas possíveis consequências, e ainda diz que está laborando pela fé. Quanto ao manejo da palavra de Deus, ele é raso e superficial; seu rebanho vive sempre em estado de inanição espiritual por falta de alimento sólido.
O que aqui está em jogo não são questões morais. Por ser inapto, não significa que o obreiro, necessariamente tenha que ser uma pessoa ruim. Às veze é uma ótima pessoa, mas lhe falta a necessária aptidão para lidar com o povo de Deus. Ele precisa ser ensinado, tal como Timóteo foi ensinado por Paulo. Não havendo isso, a tendência é ele seguir o caminho mais fácil e de menor esforço.
Hoje em dia, em muitas igrejas, o tradicional culto de doutrina se transformou em culto de libertação, onde o pregador se ocupa apenas em repreender coisas ruins da vida do povo. Mesmo não sendo chamado abertamente de “culto de libertação”, o tipo de mensagem pregada tem a ver somente com problemas de ordem material, como doenças, azar, quebra de maldição, desemprego, aquisição de bens desentendimentos familiar etc.
Até que não sou totalmente contra o moderno culto de libertação inventado pelos neopentecostais. Mas o que me espanta, é que a maioria desses cultos são frequentados somente por pessoas crentes. Dificilmente vemos a presença de uma pessoa não crente nesses cultos. Às vezes tenho pensado: “será que esses irmãos ainda não foram libertos, ou é o dirigente deles que ainda não aprendeu a lidar com a doutrina bíblica?”. Ora, ou o crente está liberto ou não está. Se estiver não precisa frequentar esses cultos, a não ser para ajudar a libertar os que ainda não foram libertos. Por outro lado, às vezes penso que o problema está no pregador, que não sabe diferenciar seus ouvintes, a fim escolher o tipo de sermão a ser pregado.
Quanto ao obreiro relapso, me refiro a aquele que não tem compromisso com a obra de Deus. Ele não tem a devida responsabilidade para com o rebanho; é o último a chegar à igreja e o primeiro a ir embora; usa sentenças descabidas e fora do contexto bíblico; age de acordo com seus próprios paradigmas sem levar em consideração os valores ortodoxos protegidos pelo ministério da igreja. Alguns por serem muito afoitos fazem promessas que não podem cumprir e terminam perdendo o prestígio e até mesmo o respeito dos subalternos.
Questões de relacionamento - “Não ter de que se envergonhar” também tem a ver com saber transitar no meio do povo de Deus e do povo sem Deus. O obreiro que não sabe se relacionar não pode assumir cargo diretivo.
Se relacionar com Deus não é difícil - difícil é se relacionar com o povo de Deus e dificílimo é se relacionar com o povo sem Deus. E o obreiro precisa saber fazer toda essa manobra sem entortar a própria consciência.
Se relacionar com Deus é como andar numa estrada reta. Pois o caráter de Deus é reto e perfeito. Mas se relacionar com o povo é como andar numa estrada sinuosa, cheia de curvas. Daí a necessidade de o obreiro estar sempre atento ao perigo. Ele deve tomar muito cuidado na sua jornada ministerial.
Por serem retos os caminhos de Deus não há acidente. Os acidentes só ocorrem nos caminhos dos homens. E o agravante em tudo isso, é que acidentes deixam marcas – e muitas delas nunca se apagam.
Ao assumir o reino de Israel Salomão pediu a Deus sabedoria para saber se relacionar com o povo (I Crô 1:10). Ele sabia que substituir seu pai Davi não era uma tarefa fácil.
Por muito tempo Moisés conseguiu se relacionar com o povo sem prejuízo pessoal, mas num momento de descuido ele perdeu o privilégio que mais almejava: entrar na terra prometida (Nm 27:14). Daí a razão de Paulo dizer a Timóteo: “Tenha cuidado de ti mesmo” (I Tm 4:16).
Antes de tomar qualquer decisão o obreiro precisa perguntar a si mesmo: em que isso pode me prejudicar? Pois decisões erradas podem causar prejuízos irreparáveis para o obreiro.
Antes de cometer qualquer ato, o obreiro deve fazer a si mesmo a seguinte pergunta: eu posso arcar com as consequências? Digo isso, porque elas certamente virão.
No texto original a expressão “maneja bem a palavra da verdade” é oriunda da palavra orthotomed. Uma palavra rica e difícil de traduzir. Ela é usada na Septuaginta em Provérbios 3:6 e 11:5, com respeito a abrir um caminho reto. Etimologicamente trás a ideia de cortar reto. As traduções sugeridas pelos lexicógrafos são: guiar por um caminho reto; ensinar corretamente; expor de maneira sadia; pregar destemidamente; dividir ou distribuir corretamente.
“Maneja bem a palavra da verdade” tem a ver com aptidão para guiar o rebanho por um caminho reto. A falta dessa habilidade faz com que o pastor guie o rebanho por caminhos tortos.
Guiar por um caminho reto, significa orientar pela doutrina de Cristo (Ti 2:10; Hb 6:1) - Guiar por um caminho torto significa orientar pela doutrina de homens ou até de demônios (Ef 4:14; I Tm 6:3; I Tm 4:1).
A expressão “caminho do Senhor” é usada por várias vezes, e, mui curiosamente, sempre em alguma passagem relacionada a incidentes da vida de Paulo (At 19:9, 23; 22:4; 24:14, 22).
O nome “caminho do Senhor” foi empregado pelos próprios crentes para designar o tipo de fé que eles exerciam em Jesus Cristo. O caminho do Senhor era o caminho da vida. Esse termo foi usado pelos cristãos muito antes de qualquer outro, para diferenciá-los das demais seitas, especialmente os grupos esotéricos do judaísmo.
O termo “caminho do Senhor” pode ser entendido como uma doutrina que conduzia as pessoas a uma determinada direção: a vida eterna. Os discípulos seguiam a Jesus através dos seus ensinamentos e os seus ensinamentos indicavam um caminho que os conduziam a algum lugar.
Parece que essa expressão era bem familiar aos judeus daquele tempo. Pois os trechos de Isaías 40:3 e Salmos 1:6 tem esse caráter. O próprio Jesus se utilizou desse termo para se identificar, ao dizer, “Eu sou o caminho” (Jo 14:6).
Hoje em dia os motoristas são orientados pelo GPS. É ele quem guia o motorista para chegar ao endereço pretendido. O trabalho do obreiro que sabe manejar bem a palavra da verdade pode ser comparado ao trabalho do GPS.
“Maneja bem a palavra da verdade” significa saber lidar com a revelação divina desde a antiga aliança. Timóteo precisava saber interpretar para os crentes a nova aliança à luz da antiga aliança. E isso não era algo tão fácil, como à primeira vista podemos pensar.
Nos tempos de Paulo as doutrinas do Novo Testamento ainda não estavam completamente definidas, especialmente os temas soteriológicos e escatológicos. Muita coisa ainda precisava ser alinhada, especialmente pelos crentes vindo do judaísmo que ainda não haviam se libertado do legalismo da Lei. Essa é uma das preocupações de Paulo com o exercício ministerial de Timóteo.
Para Paulo, não bastava Timóteo saber manjar bem a palavra da verdade, ele precisava também a não se envolver em contendas inúteis (II Tm 2: 14). Isso indica que entre os crentes havia fortes debates acerca da fé cristã, especialmente quando era contrastada com as doutrinas judaicas e até gnósis gregas misturadas com tradições judaicas (II Tm 2:16-18). Pois a igreja pastoreada por Timóteo era composta, na sua maioria por crentes helénicos.
Se Timóteo não soubesse manejar bem a palavra da verdade ele estaria colocando em risco os pilares da nova fé. Pois a igreja do futuro iria depender muito dos ensinos do presente. Ele não podia adicionar nem subtrair nada daquilo que aprendeu de Paulo (II Tm 1:13; 2:1).
Numa só palavra: para começar a exercer o ministério o obreiro precisa, no mínimo, saber lidar com a palavra de Deus, a fim de conduzir o rebanho pelo caminho reto. Com isso não queremos dizer que ele tem que ser versado em Bíblia para iniciar sua carreira ministerial, mas que precisa, no mínimo, conhecer os fundamentos das sagradas Escrituras.
O ministério do ensino – Saber lidar com as Escrituras é a principal qualidade do obreiro aprovado. Sempre que Paulo discursa sobre qualidades ministeriais, ele não deixa de enfatizar a aptidão para o ensino. Em I Timóteo 3:2, entre as qualidades morais ele não se esquece de relatar a qualidade intelectual: aptidão para o ensino.
No ministério apostólico o ensino sempre ocupou o primeiro lugar. A razão disso reside na ordem imperativa do Senhor Jesus: “Ide e ensinai” (Mt 28:19). A igreja do Novo Testamento levava a sério as determinações do Senhor Jesus acerca do ensino; e por causa disso ela crescia assustadoramente, a ponto de incomodar o sistema religioso da sua época. Pois após o concílio do Sinédrio ter expressamente proibido os apóstolos de ensinar, eles “não cessavam de ensinar e pregar a Jesus Cristo” (At 5.42).
Na carreira de Paulo o ministério do ensino é o que mais se destaca. Ele, por ser um homem culto, sabia que o ensino é fundamental para o desenvolvimento de qualquer negócio. É por isso que ele incentiva seus obreiros a se dedicar ao ensino. Em I Timóteo 4:13 ele diz: “Persiste em ler, exortar e ensinar”. Em I Timóteo 4.11 ele ordena: “Manda estas coisas e ensina-as”. Aos anciãos da igreja de Éfeso ele lembra que nunca deixou de ensiná-los (At 20.20). Ele mesmo experimentou esta verdade no início da sua vida cristã. No começo foi instruído por Ananias e posteriormente por Barnabé, até se tornar o grande mestre da fé cristã.
A principal arma das seitas heréticas é o ensino. Pois seus líderes sabem o poder que o ensino tem. Se você frequentar uma reunião de uma seita logo verá que a maior parte do tempo usado ali é ocupado com o ensino. Seus adeptos são ensinados a seduzir as pessoas por meio do ensino.
As Testemunhas de Jeová não tem programa de rádio nem de televisão, mas cresce galopantemente. Eles têm um grande exército de pessoas treinadas para andar de casa em casa ensinando sua doutrina espúria. Todo programa de evangelização deles se resume em apenas nisso: ensinar.
Uma situação lamentável na vida de muitos obreiros de hoje em dia é o desinteresse no estudo da palavra de Deus. Por essa deficiência de tais obreiros, sofrem as pobres igrejas que eles presidem.
Há obreiros, que por negligenciar o estudo da palavra, ocupa todo o tempo do culto contando estória para o povo - roubando o precioso tempo destinado ao ensino da palavra. Outros menos piores se contentam apenas com a leitura da Bíblia; decora um episódio bíblico, e toma todo o tempo destinado ao ensino da palavra, contando aquele fato ocorrido, como por exemplo, a briga de Davi com o gigante Golias; a guerra de Israel com os Filisteus; a vitória de Gideão sobre os midianitas; a abertura do mar vermelho; a briga de Sansão com os Filisteus etc.
Já presenciei pregador gastar todo tempo destinado à mensagem sem falar uma única vez o glorioso nome do Senhor Jesus Cristo. Isso é deplorável para alguém que se intitula pregador do evangelho. Não sou contra se basear em passagens do Antigo Testamento para pregar; até porque eu mesmo às vezes ajo assim. Mas não me conformo com alguém que se diz pregador do evangelho, mas prega sem realçar qualquer aspecto da nova aliança. Em minha opinião, o Antigo Testamento só deve ser pregado quando contextualizado com o Novo Testamento.
Decorar uma história do Antigo Testamento e depois contar à igreja é muito fácil. O que não é tão fácil é descobrir a mensagem que Deus quer nos transmitir através dos sagrados relatos. E isso só será possível através de longos períodos de oração e de dedicação ao estudo da palavra de Deus, de maneira bem orientada, metódica e sistemática. Mas regidos pela lei da inércia e do menor esforço muitos obreiros se contentam com o pouco que sabem ou que julgam saber. Gastam todo tempo destinado ao ensino da palavra, pregando episódios bíblicos, sem transmitir nenhuma lição de vida cristã para a igreja, sem ensinar à igreja o verdadeiro sentido da vida cristã.
Se isso ocorresse no mundo dos negócios, onde a ênfase recai sobre o progresso e o contínuo aperfeiçoamento, onde todos são obrigados a procurar aprimorar-se constantemente, muitos obreiros perderiam seus cargos. Porém, nas igrejas evangélicas os ensinadores geralmente não são pagos. Isso, talvez seja a grande razão da incúria.
Seja como for, é lamentável que tantos indivíduos só se disponham a melhorar seus conhecimentos e seus métodos a troco de um salário. Mas, que podemos dizer daqueles que passam quatro anos estudando num instituto bíblico, e depois se estagnam, pensando que tudo o que precisavam aprender já aprenderam? Quantos deles procuram melhorar sua utilidade nas mãos de Deus, de alguma forma objetiva e intensiva?
Alguns obreiros têm receio do conhecimento, do estudo e das pesquisas, pensando que tais atividades irá corrompê-los. Porém, a ignorância nuca foi premiada por Deus. Muito pelo contrário, ele sempre recomendou a busca do conhecimento e da sabedoria (Pv 4:7). Pois ele mesmo é conhecimento e sabedoria infinita e consumada. Esses valores que ele possui de maneira absoluta e infinita ele quer que recebamos em porções finitas.
Laboram em erro aqueles que não sentem necessidade de aprender da parte de outros, sem importar se a instrução é recebida em forma oral ou proveniente de fontes escritas. Bons livros, sobretudo aqueles que explicam as Escrituras de maneira responsável, podem ajudar o obreiro a desenvolver sua mentalidade espiritual, a mais rica de todas as possessões.
A mente treinada e carregada de pensamentos dignos, e, mais particularmente ainda, de pensamentos divinos, concede aos seus possuidores uma alegria que poucos são capazes de conhecer e apreciar. Por isso o maior de todos os mestres disse: “Conhecereis a verdade, e ela vos libertará” (Jo 8.32).
Admiro muito a humildade do nosso pastor presidente: José Welington Bezerra da Costa, na busca pelo conhecimento. Este servo de Deus não perde nenhuma escola dominical, exceto quando está ausente da cidade por força de necessidade. O que é mais notável nisso tudo, é que embora sendo ele mestre, a escola dominical, ele frequenta como aluno. Tenho observado também que, durante todos os períodos de ensino na nossa Escola Bíblica ele participa, anotando tudo aquilo que julga ser profícuo para sua vida pessoal e para seu ministério.
Finalizo esse breve estudo, incentivando nossos leitores a não se contentarem somente com o que já recebeu de Deus, dos mestres e dos livros. Continue perseguindo o conhecimento, ainda que isso lhe custe um alto preço. Não se estagne, porque quem para fica para trás. Aceite o conselho de Provérbios 4:7, colocando tudo o que possui em busca do conhecimento, porque ele vale mais que o ouro fino (Pv 8:10).