Terça, 20 de julho de 2021
DEFINIÇÃO E ORIGEM DA PALAVRA “EVANGELHO”
Embora a palavra “evangelho” já fosse usada esporadicamente no Antigo Testamento para anunciar uma boa noticia (II Rs 7:9), é no Novo Testamento que ela atinge seu clímax.
A palavra “evangelho” (do grego, euangelion) significa boas novas, boas notícias. Trata-se da proclamação de algo bom que aconteceu, como por exemplo, a notícia de que o exército foi vitorioso na guerra (II Sm 4:10). Embora ela não tenha sua origem no círculo cristão, foi no cristianismo que ela se tornou popular. Essa palavra é encontrada, tanto nas páginas da Bíblia como na literatura pagã, com os seguintes significados. Na antiga literatura grega, especialmente nos escritos de Homero, a palavra “evangelho” significava “recompensa por trazer boas novas”. Referia-se também ao “sacrifício por causa de boas novas”. Usava-se ainda, no culto imperial, como proclamação ao “imperador divino”. Essas proclamações de boas novas eram recebidas pelo povo em forma de salvação e vida.
No Novo Testamento, o termo “evangelho” é usado para indicar às boas novas de salvação. Mas não é somente isso, é usado também para se referir ao desfecho das revelações divinas na nova aliança, como veremos, a seguir.
Para Anunciar o Nascimento do Senhor Jesus
É curioso que, no Novo Testamento, o evangelho começa sendo anunciado por um anjo para vaticinar o nascimento de João Batista e para proclamar o nascimento do Senhor Jesus (Lc 1:19 e 2:10) e termina, também sendo anunciado por um anjo (Ap 14:6). A primeira mensagem é de salvação, mas a segunda é de juízo. Estas são as duas faces do evangelho: a que aponta para o caminho do céu e a que aponta para o caminho do inferno.
No começo, Jesus é o objeto do evangelho (Lc 2:10), depois é o anunciador do evangelho (Mt 4:23). Aquele que antes fora proclamado, agora é o proclamador. Isso faz dele o centro do evangelho, porque é nele que o evangelho começa e é nele que o evangelho termina. Ele está no começo do evangelho como proclamado (Gn 3:15 e Lc 2:10), depois como proclamador e logo após sua morte e ressureição volta a ser proclamado (At 5:42).
Para Referir aos Livros Biográficos do Novo Testamento
A palavra “evangelho”, também é usada para designar aos livros de Mateus, Marcos, Lucas e João que relatam os feitos e a biografia do Senhor Jesus. No começo, esses livros não eram chamados de evangelho, mas, com o passar do tempo, os autores que trabalharam na tradução e na interpretação dessas obras lhes deram o tradicional título de “evangelho”.
Vale destacar que o evangelho não é dos autores bíblicos, mas do Senhor Jesus. Portanto é errado falar “evangelho de Mateus, Marcos, Lucas ou João”, mas do Senhor Jesus. Até mesmo o texto de Romanos 2:16 e 16:25, onde Paulo diz “meu evangelho”, não pode ser tomado como um evangelho de Paulo no sentido de criação e de propriedade. Ao dizer “meu evangelho”, Paulo não está declarando que o evangelho que ele anuncia seja um constructo dele, mas uma revelação especial que recebera diretamente de Deus. Também não está inferindo que o “seu” evangelho seja diferente do evangelho pregado pelos demais apóstolos, mas daqueles que ignoravam ou rejeitavam a inteireza do evangelho.
O evangelho que Paulo pregava era o mesmo evangelho pregado pelos demais apóstolos, porém com mais profundidade, conforme diz Pedro (II Pd 3:15-16). Os apóstolos pregavam um evangelho que haviam recebido do Senhor Jesus, quando ainda vivia em corpo humano; Paulo pregava um evangelho recebido diretamente do Cristo em estado de glorificação (Gl 1:16-17). É por isso que o evangelho pregado por ele era mais sutil e mais espiritual que o evangelho pregado pelos demais apóstolos. Os mistérios de Deus que ainda não haviam sido bem compreendidos pelos apóstolos, rapidamente foram compreendidos por Paulo, como por exemplo, a universalidade do evangelho desvencilhado da circuncisão e da Lei de Moisés, conforme lemos em Atos 15:14-29.
Os demais apóstolos pregavam um evangelho básico que consistia mais no que Jesus representava para a igreja. Isso é chamado em Atos 2:42, de “doutrina dos apóstolos”, a qual era bastante simples, porém poderosa para transformar vidas. A doutrina dos apóstolos girava em torno da exaltação de Deus Pai, do Senhor Jesus como redentor e do Espírito Santo como conservador da igreja. Mas a ênfase recaia sempre na pessoa de Jesus. Isso era tão relevante que os primeiros batismos eram ministrados somente em nome de Jesus (At 8:16; 10:48 e 19:5). Com a chegada de Paulo isso foi bastante ampliado, porém sem sair do eixo apostólico.
Para Referir ao Profundo Valor das Boas Novas
A palavra “evangelho” nos escritos do apóstolo Paulo, tem um significado muito mais profundo do que os encontrados em qualquer outro escrito bíblico. Paulo usa este termo para explicar a exaltada natureza da igreja, a sua comunhão espiritual com Cristo e o constante companheirismo do Cristo divino, conforme se verifica no capítulo quatro da sua epístola aos Efésios.
Para Paulo, o evangelho não é apenas uma mensagem que fala ao pecador do perdão de pecados e de uma morada celestial, é algo bem maior; é o ascensional crescimento do crente, a sua constante evolução espiritual rumo à perfeição, é a transformação gradativa segundo a imagem de Cristo Jesus, até alcançar à sua plenitude (Ef 1:23; 3:19; 4:13).
A palavra grega que aqui é traduzida por poder é “dunamis”, de onde se deriva a palavra dinamite. Na Vulgata Latina, a palavra grega “dunamis” (poder) foi traduzida para “virtus”, usada na língua portuguesa como virtude.
Virtude não significa apenas poder, mas poder em ação, conforme lemos em Lucas 6:19. Isto feito, o evangelho é o poder de Deus em ação. Isso significa que, quando pregamos o evangelho, Deus começa a agir (Jo 14:10). É por isso que Paulo disse que ele é o poder de Deus.
Os profanos usam o poder da dinamite para destruir o que foi construído, o crente usa o poder do evangelho para construir o que foi destruído (I Ts 1:5).
Há vários tipos de poder e várias maneiras de usá-lo. Há poder bélico, político, econômico, mental etc. Nenhuma nação se envergonha do seu poder bélico, econômico, científico etc., muito pelo contrário, seu povo se orgulha e se envaidece de tudo isso.
Nenhuma dessas formas de poder humano pode transformar a vida de qualquer pessoa. Nenhum sistema educacional ou filosófico pode fazer de um homem mau um homem bom. Só o evangelho pode fazer isso. Portanto, sendo Paulo ministro desse poder o qual tem origem divina e não humana, não via nenhum motivo, para dele se envergonhar.
Os poderes humanos, frequentemente tendem para a destruição, mas o poder do evangelho opera na construção. A razão disso, é que as suas realizações só atendem as leis do amor e da bondade.
As verdades do evangelho não são declaradas nos moldes do pensamento filosófico que visa melhorar o homem por meio de um conjunto de código de ética, tais como a proposição de Sócrates e de Confúcio. Embora a ética filosófica ensine o bem, não tem força para fazer com que o homem mau se torne bom. Mas o evangelho tem, porque ele não atua somente no campo da teoria, mas também da ação. O evangelho não é apenas boas novas, é também o próprio poder de Deus em ação. Sendo assim, ele revela a justiça de Deus e conduz à salvação todos aqueles que creem.
O evangelho é o toque de alarme, é uma luz que brilha como sinal de que uma nova vida está à espera do ouvinte; é um aviso de que, para além dessa vida sofrida há uma vida de gozo e glória à sua espera; é o anúncio de que ainda há uma esperança; é a mensagem dos céus para os habitantes da terra, convidando-os para morar lá. Por isso e por muito mais é que Paulo afirmou que o “evangelho é o poder de Deus”.
A prova de que o evangelho é o poder de Deus é que ele pode realizar aquilo que ninguém pode fazer. Quem pode transformar uma prostituta numa virtuosa mãe de família? Quem pode transformar um ladrão num homem honesto? Quem pode transformar um mal feitor num homem de bem? Quem pode fazer um vicioso pecador mudar sua atitude e, consequentemente, o seu endereço do inferno para o céu, senão a poderosa mensagem do evangelho? (Rm 1:17).
Embora a fé seja um dom que opera por meio da ação do Espírito Santo, ela só pode ser recebida mediante a pregação do evangelho. Esse recebimento ocorre quando a mensagem do evangelho começa a surtir efeito.
Se o poder do evangelho é divino seus efeitos também são divinos. E um dos maiores desses efeitos é a transformação de um pecador num santo filho de Deus.
Se Paulo disse que não se envergonhava do evangelho é, sem dúvida, porque alguns crentes se envergonhavam dele. Mas ainda hoje há também quem se envergonha do evangelho por desconhecer o seu poder. O senso de se vergonhar do evangelho sinaliza o desconhecimento do seu poder e da sua eficácia, pois ninguém se envergonha do poder que possui, muito pelo contrário, se gloria dele.
A filosofia, a política, a ciência e o luxo dos romanos revelam o poder do homem, mas o evangelho revela o poder de Deus. A confiança dos romanos estava no visível poder bélico das suas legiões, mas a confiança de Paulo estava no invisível poder do evangelho. Por isso, ele não se envergonhava do evangelho.
O poderio e a glória romana não intimidava Paulo. Embora a doutrina do seu evangelho fosse criada por um humilde carpinteiro, sentenciado à morte pelo tribunal romano, ele não se apequenava. Ele sabia que todas as legiões dos césares se tornavam inerme frente ao evangelho que ele anunciava.
Os poderosos deste mundo fazem revolução destruindo o que foi construído, o poder do evangelho faz revolução construindo o que foi destruído.
Destruindo cidades e assassinado vidas as legiões romanas conquistaram o mundo civilizado para os césares, e em menos tempo, sustentando o fraco e levantando o caído, o evangelho conquistou os reinos bárbaros e todo império romano para Cristo.
Os romanos conquistavam povos e nações usando o espírito da força, enquanto o evangelho de Paulo ia conquistando com a força do Espírito.
Tanto em Roma como na Grécia, especialmente em Atenas (centros da erudição filosófica), o evangelho era ridicularizado, visto nada mais como produto do fanatismo religioso, especialmente no que dizia respeito à doutrina da ressurreição. Mas Paulo não se envergonhou de levantar a bandeira ruborizada pelo sangue do seu grande mestre no areópago de Atenas, no Capitólio de Roma e em todas as plagas longínquas e propínquas da Ásia e da Europa.
Para os gregos, o evangelho não passava de uma insensatez, enquanto para os judeus, era um escândalo (I Cor 1:23), mas para Paulo, era poder de Deus.
As reivindicações apresentadas por Paulo e pelos demais apóstolos, a fim de mostrar a veracidade do evangelho, se alicerçavam no poder que ele exercia sobre as pessoas, e o motivo disso, era que Jesus estava vivo e ativo entre eles.
Em face do exposto, apesar das circunstâncias adversas, urgia Paulo a visitar a grande metrópole romana, onde havia a possibilidade da sua mensagem ser ridicularizada como foi em Atenas (At 17). Mas, por outro lado, ele não sentia envergonhado, porquanto não cedia a qualquer afronta, sem importar o lugar onde tivesse de anunciar a mensagem do Cristo crucificado.
No pensamento de Paulo, o poder que havia transformado bárbaros nas longínquas plagas da grande metrópole romana era o mesmo que poderia transformar os filósofos gregos e os poderosos políticos romanos. A suposta novidade do evangelho não diminuía em nada a sua realidade (I Cr 1:23).
Paulo já havia pregado o evangelho em centros de grande erudição, tais como Atenas, Corinto e Éfeso. Por isso, ele sabia, por experiência, o que os grandes sábios e entendidos pensavam da sua mensagem. Mas isso não podia impedi-lo a continuar falando dos mistérios de Deus contidos no evangelho. Sendo assim, ele não hesitava a semear a boa semente, ainda que fosse num auditório céptico e hostil como fez no Areópago de Atenas (At 17:22-34). Ele não se importava com a qualidade do terreno, se fértil ou estéril, mas com a semeadura.
O evangelho chegou ao apóstolo Paulo por meio de revelação divina. Por isso, ele tinha plena convicção de que o evangelho é poder de Deus para salvar os homens do poder de Satanás. Hoje, temos também plena convicção desse poder verdadeiro, porque ele realizou e realiza grandes obras em nossas vidas e fará na vida daqueles a quem forem anunciados (Gl 1:11-12).
Verdade é uma das palavras que o Senhor Jesus mais pronunciou nos seus discursos. Pronunciava assim, não só pela convicção do que afirmava, mas porque via no coração dos seus ouvintes muitas incertezas.
Embora sendo o depositário das verdades divinas reveladas na Antiga Aliança, os judeus se estagnaram no progresso da revelação divina. Por isso não conseguiram entender a sublime mensagem do evangelho, trazida pelo Senhor Jesus. Eis aí a razão pela qual o Senhor Jesus conseguiu tirar apenas alguns deles das trevas noturnas da ignorância para a luz meridiana da verdade. Daí a razão das suas lapidares palavras: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertarás” (Jo 8:32). Mas libertará de quê? Da ignorância que os mantinham presos.
A maior parte do capítulo oito do evangelho segundo João é dedicada ao debate do Senhor Jesus com os judeus sobre a verdade. De um lado os judeus ostentam ser filhos de Abraão, o progenitor do povo eleito; do outro, o Senhor Jesus reivindica sua origem divina e celestial, portanto, conhecedor da verdade no mais alto grau. No calor do debate, o Senhor Jesus chega a lhes dizer que são filhos do diabo, e pelo diabo, vivem enganados com mentiras (vs.44), mas se quiserem ser livres só precisam crê nele (vs.36).
No círculo filosófico, desde os tempos antigos têm-se dito que a verdade não existe. Ela gira em torno de tese, antítese e síntese. É por isso que Pilatos perguntou ao Senhor Jesus: “O que é a verdade?” (Jo 18:38). Em face dessa pergunta, o Senhor guardou silêncio. Ele sabia que era inútil dizer qualquer coisa sobre a verdade para Pilatos. Seria como lançar coisas santas aos cães ou pérolas aos porcos (Mt 7:6).
Uma das coisas que os gregos mais perseguiam era a verdade. Desde a existência do mundo até o sentido da vida, eles queriam compreender. Viviam sempre atentos para ouvir qualquer novidade que lhes desse alguma explicação coerente (At 17:21). Essa curiosidade grega foi um terreno fértil para Paulo semear a semente do evangelho, o qual ele nominava de “palavra da verdade” (Col 1:5).
É através do evangelho e do evangelista (da semente e do semeador) que Deus fala aos corações dos pecadores perdidos. Ele não mente nem se engana, sua Palavra é a verdade (Jo 17:17).
O homem pode se enganar ou até mentir, mas Deus não. Ele permanece sempre fiel e verdadeiro (Rm 3:4). A sua Palavra é a verdade que liberta o homem da tirania e da ignorância que alimenta o pecado (Jo 8:32).
Satanás se utiliza do poder que possui para obscurecer o entendimento das pessoas (II Co 4:4); o crente se utiliza do poder do evangelho para lucificar a visão espiritual das pessoas. Então quem anuncia o evangelho labora como quem acende uma luza em densas trevas.
Em I Coríntios 2:7; Colossenses 1:26 e Romanos 16:25, Paulo fala do mistério que, por muito tempo, permaneceu oculto. O que ele chama de mistério revelado (Col 1:27) é a aparição do Senhor Jesus Cristo, cumprindo a sua sublime missão. Mas esse mistério continua oculto para os que se perdem, mas para os salvos em Cristo Jesus é uma realidade vivenciada no poder de Deus (I Cor 1:18).
Um mistério não é alguma coisa intrincada como, por exemplo, um quebra-cabeça, mas algo oculto que pode ser revelado. E aqui, nas palavras de Paulo, esse mistério só pode ser revelado por Deus (I Co 15:51; Col 1:26).
Um mistério desvendado é toda verdade divina, antes oculta, que nos foi esclarecida, para que fôssemos iluminados, e o evangelho é essa verdade que o Senhor Jesus veio nos revelar (Col 1:26), portanto, deixou de ser mistério.
O mistério do evangelho não é apenas a salvação dos pecadores, não é apenas a mudança de endereço do inferno para o céu, mas toda doutrina dada à igreja. Algumas delas, embora já reveladas, ainda não foram levadas a efeito, como por exemplo, a doutrina da ressureição (I Co 15:52).
Para Paulo, aqueles que foram chamados para anunciar as verdades de Deus, contidas no evangelho, são considerados depositários dos mistérios de Deus (I Cor 4:1). Estes depositários são responsáveis para revelar, ao mundo perdido, os mistérios de Deus.
Embora sendo o evangelho um mistério revelado, ainda não foi revelado para todos. Eis aí a nossa grande responsabilidade de pregá-lo. Portanto, pregar o evangelho equivale a esclarecer ao mundo perdido os propósitos de Deus ainda envoltos em mistérios.
Em Colossenses 1:27, Paulo mostra a diferença entre o cristianismo e as religiões gregas de mistério. Nas religiões de mistério o conhecimento dos desígnios dos deuses era privilégio somente dos mestres iniciados, mas no cristianismo, o conhecimento da verdade é para todos. O que ele chama de “mistério entre os gentios” (Col 1:27) é o próprio evangelho.
O CONTEÚDO DA MENSAGEM DO EVANGELHO
Tendo em vista que o evangelho é uma mensagem, uma proclamação, precisamos conhecer que tipo de mensagem ele trás para nós e para o mundo.
Algumas pessoas, excessivamente educadas acham que só devemos falar das coisas boas que o evangelho contém, até porque, devemos estar subordinados ao seu próprio conceito que é “boas novas”. Uma vez que ele é boas novas, devemos nos ocupar apenas em falar dessas boas novas. Entretanto precisamos notar que o evangelho tem duas faces: a face otimista e a pessimista. A face otimista do evangelho é a seta que aponta para o caminho do céu e a pessimista é a que aponta para o caminho do inferno.
Quando pregamos o evangelho e falamos somente da salvação gratuita que Deus nos oferece, ficamos em débito para com nossos ouvintes porque não lhes falamos das consequências que virão sobre eles, caso não recebam o evangelho inteiro. Portanto, o lado pessimista do evangelho é a sua parte complementar. Alguém disse: “se houvesse mais pregadores falando do inferno haveria menos pecadores indo para lá”.
A mensagem de Paulo em Romanos 2:16, indica que ele vivia tão familiarizado com o evangelho que chegava ao ponto de chama-lo de “meu evangelho”. É como se ele dissesse: segundo o evangelho que me foi revelado ou confiado (Gál 2:7).
Não devemos interpretar essas palavras paulinas como se o evangelho pregado por ele fosse um evangelho distinto. A ideia central das palavras do apóstolo é que o verdadeiro evangelho deve incluir o conceito do julgamento, conforme o mesmo será administrado por Jesus Cristo, o que certos mestres judaizantes não incluíam em suas mensagens, apresentando, dessa maneira, um falso evangelho, como fazem ainda muitos falsos evangelistas nos dias de hoje. Por conseguinte, diz Paulo aqui: “meu evangelho”, para estabelecer o contraste com o ensino parcial de certos mestres, sobretudo no que diz respeito à atuação de Cristo como juiz.
A fé judaica e o evangelho proclamado pelos judaizantes não incluíam tais verdades ou mesmo chegavam a rejeitá-las totalmente. Com o que é dito aqui pode-se comparar o trecho de Gálatas 1:6-9, que contém essa ideia.
Baseados em Apocalipse 14:6, alguns intérpretes têm dito que o evangelho do reino que atualmente pregamos (Mt 24:14), cessará, dando lugar ao evangelho eterno, o qual virá com uma mensagem diferente da mensagem do atual evangelho (Ap 14:6). Mas isso não passa de especulações infundadas, que só serve para confundir os incautos.
Para o mormonismo, o evangelho eterno trata-se de uma nova versão do atual evangelho, que teria sido revelada em sua própria seita. Essa nova versão ganhou o nome de “evangelho restaurado”. Mas essa doutrina, completamente desprovida de base bíblica, só pode satisfazer os interesses dos seus inventores.
O evangelho não precisa e nunca precisará ser restaurado; muito pelo contrário, ele produz efeito restaurador porque é o poder de Deus (Rm 1:16; I Cor 1:18).
Os hereges começaram a modificar a mensagem do evangelho logo quando ele começou a ser pregado pelos apóstolos. É por isso que em Gálatas 1:9, Paulo adverte: “Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema”. Vaja ainda II Coríntios 11:4 e I Coríntios 3:11.
O evangelho mencionado no Apocalipse 14:6, é o mesmo que atualmente pregamos, porém com várias advertências em contraste ao falso evangelho do falso profeta, induzindo o povo à adoração à besta. Ele será pregado pelos anjos e pelas duas testemunhas (Ap 11:3; 14:6), em meio a grandes convulsões cósmicas, mas, ao que parece, os homens não se converterão dos seus pecados (Ap 16:9).
Por ter saído do coração do Deus eterno e imutável o evangelho permanece o mesmo. Ainda durante o período apocalíptico sua mensagem continua a mesma, mostrando o endereço do céu e as consequências que virão sobre quem persiste em andar no caminho do pecado.
Quanto ao evangelizado, a verdadeira mensagem do evangelho é como um convite feito a um enfermo para deitar em uma mesa de operação e sofrer uma intervenção cirúrgica sem anestesia. A mensagem do evangelho, além de cortante é dolorida, quando aplicada sobre um coração enfermo. Mas aqueles que a suportam de boa vontade são curados do veneno injetado pela antiga serpente.
Atualmente muitos pregam um evangelho indolor, que não tem que passar pelo sofrível sermão da montanha. São aqueles evangelistas que estão convencidos de que podem encontrar uma entrada no reino dos céus por uma portinhola dos fundos. Tais pregadores se esquecem de que o Cristo da luz é também o Cristo da cruz, que o Cristo do amor, também é o Cristo da dor.
O verdadeiro evangelho exige uma vida de renúncia, que a princípio, é amarga e compulsória, mas logo após os seus miraculosos efeitos ela se torna dócil e radiante. O que antes era difícil, agora fica fácil; o que antes era amargo, agora fica doce; o pesado fica leve; o triste dever se converte em um radiante e glorioso querer, e até a morte se converte em uma alvorada de vida.
Quanto a permanência no evangelho, precisamos conscientizar os crentes de que a vida cristã não consiste somente em tempos de bonanças, mas também em enfrentamentos para perseverar na fé (At 14:22; Ef 3:13; II Tm 1:8; 4:5). Mas é por esses sofrimentos e aflições que tomamos posse do reino de Deus (Mt 11:12;At 14:22).
Por que passam por lutas e tribulações aqueles que vivem e anunciam o evangelho? É porque a ética do evangelho, por si só, denuncia a imoralidade dos padrões sociais. Pois o evangelho é totalmente incompatível com os padrões morais do mundo. Ambos nunca se reconciliam. É por isso que Paulo diz que “a mensagem da cruz é loucura, mas para nós que somos salvos é o poder de Deus” (I Cor 1:18). A seguir, ele diz: “aprouve Deus salvar os crentes pela loucura do evangelho” (I Cor 1:21).
Por que para o mundo o evangelho é loucura? Em primeiro lugar, é porque o evangelho exige do homem natural coisas que ele não compreende (I Cor 2:14). Em segundo lugar, porque o evangelho se opõe aos padrões imorais, tão apreciados pelo homem natural. Sendo assim, a mensagem do evangelho constitui numa agressão ao modo de vida do pecador.
Como já dissemos, a mensagem do evangelho inclui o juízo de Deus, e o homem profano não gosta de ouvir isso. Ao se sentir agredido ele agride a mensagem e o mensageiro. Nesse momento ele toma a defensiva do ego e parte para a ofensiva do tu. Ao se sentir agredido, ele agride o mensageiro do evangelho, seu pretenso agressor. Daí a razão de sofrer quem prega o evangelho.
Enquanto houver quem goza no pecado, haverá quem sofre por denunciar o gozo do pecado. Mas por quê? Porque a mensagem do evangelho atua como ferrão que fustiga o pecador (At 9:5). Ela incomoda o pecador que vive acomodado na viciosidade do pecado.
A mensagem do evangelho é necessária, não só para salvar os perdidos, mas também para conservar os salvos, pois é tão importante exortar e consolar um aflito filho de Deus como resgatar uma alma das mãos de satanás. O evangelho é necessário, não só para arrebatar o pecador do mundo, mas também para mantê-lo em Cristo. Ele serve, não só como arma de ataque, mas também de defesa. É por isso que Paulo compara o pregador do evangelho como um combatente de Cristo (II Tm 2:3; 4:7).
POR QUE DEVEMOS EVANGELIZAR?
Antes de voltar para sua glória o Senhor Jesus ordenou aos seus discípulos a dar continuidade naquilo que ele fazia: pregar o evangelho e realizar milagres (Mc 16:15-18). Mas antes que eles perguntassem como levar a cabo essa difícil tarefa, sem o comando e a ajuda de Jesus, ele responde: “eis que eu estou convosco todos os dias” (Mt 28:20). Além disso, o Espírito Santo que há de ser derramado sobre vós vos capacitará para realizar vossa missão (At 1:8).
Devemos Evangelizar Porque é Mandamento
Algumas ordenanças que o Senhor Jesus deixou para a igreja, tais como a celebração da ceia (Lc 22:19) e a ministração do batismo (Mt 28:19), procuramos segui-las rigorosamente, mas quanto a evangelização, que também é mandamento, isso não levamos muito em consideração.
A primeira razão que temos para evangelizar é porque é mandamento do Senhor Jesus. Portanto, quem não obedece a esse mandamento está em falta com ele. Esse mandamento é incondicional. Ele não disse que devemos cumpri-lo somente quando quisermos ou quando tivermos tempo.
Em João 15:14, o Senhor Jesus asseverou: “Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando”. Ainda em Lucas 6:46, ele disse: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?”
Importa destacar que as ordenanças de Cristo são para toda igreja, não apenas para alguns dos seus membros. Assim como a ceia e o batismo é para todos, a responsabilidade de evangelizar também é para todos, pois Deus olha para a igreja como um corpo solidário.
Que adianta a igreja cumprir todos os mandamentos do Senhor Jesus e negligenciar um dos principais, que é evangelizar o mundo? Veja o que está escrito em Tiago 2:10: “Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos”. Com base nesse texto podemos afirmar que quem aceita o batismo, participa da ceia, mas não evangeliza é culpado de negligenciar os demais mandamentos do Senhor Jesus, visto que eles estão interligados.
Observe que até a celebração da ceia é realizada simultaneamente com a pregação do evangelho: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha” (I Cor 11:26). O ato de anunciar a morte do Senhor acontece por meio da pregação do evangelho.
O Falso Paradigma de Paixão Pelas Almas
Embora isso não seja bíblico, mas hoje em dia se fala muito em paixão pelas almas, especialmente em cultos de missões. Já vi até livros com esse título. Mas se ficarmos esperando os crentes sentirem paixão pelas almas, dificilmente a igreja terá qualquer sucesso em qualquer modalidade de evangelização. Portanto, devemos evangelizar, em primeiro lugar, porque é mandamento do Senhor Jesus, e só depois porque sentimos amor pelas almas.
Nunca li, em todo o Novo Testamento, algum relato dizendo que os crentes evangelizavam porque sentiam paixão pelas almas. Entretanto, nunca duvidei de que eles também sentiam amor por elas. De uma coisa eu tenho certeza: o principal motivador da evangelização entre eles era a obediência ao “ide” do Senhor Jesus.
O Senhor Jesus nos incumbiu de pregar o evangelho a todos os seres humanos de todas as partes da terra. Nenhum lugar deve ser evitado e nenhuma pessoa deve ser excluída; até mesmo aquelas pessoas que não nos oferece qualquer simpatia também estão incluídas, pois a natureza do evangelho é inclusivista e não exclusivista, como querem alguns.
Em I Coríntios 9:16, Paulo declara: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho!”. Embora não duvido de que Paulo também sentisse amor pelos pecadores, mas não é isso que ele declara aqui. O que ele deixa claro é que anunciava o evangelho por determinação do Senhor Jesus.
A expressão “não tenho de que me gloriar”, equivale a dizer: “anuncio o evangelho, não é porque sou bonzinho, mas porque o Senhor Jesus mandou”.
É bastante comum ouvir os crentes dizer que Jesus é o nosso general. Já ouvi até hinos com esse dístico. Ora, se ele é nosso general, consequentemente somos soldados do seu exército. Então por que não estamos atendendo a sua convocação? Será que é por que dizemos que somos uma coisa e na verdade somos outra? Ou será que somos soldados mesmo, porém desertores?
O soldado vai à guerra, não porque tem paixão pela guerra, mas em obediência a convocação do seu comandante. E nós somos soldados de Cristo (II Tm 2:3-4), portanto, mesmo sem paixão pelas almas, devemos lhes anunciar o evangelho em obediência à aquele que nos convocou para tal missão.
Pergunte um soldado se ele ama a guerra; se tem paixão por ela. Certamente ele vai dizer que não. Mas, no exercício do dever, em obediência ao seu comandante, ele vai à guerra.
Bom seria se todos nós sentíssemos paixão pelas almas, a fim de conquista-las para Cristo com mais leveza. Mas se isso não for possível, com paixão ou sem paixão devemos lhes pregar o evangelho, atendendo a ordem do Senhor Jesus.
Não evangelizamos as pessoas somente porque as amamos ou porque gostamos delas, mas porque é mandamento do Senhor Jesus (Mt 28: 19; Mc 16:15-18; At 1:4). O que sentimos pelo pecador não é a condição do Espírito Santo atuar no coração dele enquanto o evangelizamos. Mesmo sem o devido amor pelos pecadores o Espírito Santo pode operar nos corações deles por meio da nossa pregação. A atitude do profeta Jonas, entre os ninivitas é um clássico exemplo disso. Sua aversão pelos ninivitas não mudou o propósito de Deus. Não é o nosso amor pelas almas quem opera a salvação delas, mas o amor de Deus.
Somos apenas instrumentos usados por Deus na salvação dos homens. Não somos a causa da salvação deles, mas tão-somente a condição. Quem vai fazer a obra no coração dos pecadores não é o amor que sentimos por eles, mas o Espírito Santo. Ele pode convencer os pecadores com ou sem o nosso amor; basta que lhes preguemos a mensagem do evangelho.
O ideal seria que, como Deus, pudéssemos amar a todos os homens (Jo 3:16). Mas sabemos que isso não é possível. Mas por outro lado, é possível amar a Deus e a sua Palavra. Portanto, mesmo que não tenhamos o necessário e suficiente amor pelos pecadores devemos lhes pregar o evangelho, ainda que não seja por amor a eles, mas por amor a Cristo e a sua gloriosa mensagem.
Bom seria se todos nós pregássemos o evangelho pelo radiante querer, mas se isso não for possível, então que o preguemos pelo dever. Quem começa pregando pelo dever, quando começa a ver os frutos, logo muda de atitude e passa a pregar pelo querer.
Argumentos e Desculpas de Quem Não Quer Evangelizar
Falta de tempo – A falta de tempo para evangelizar é o refúgio dos preguiçosos e dos desinteressados. Essa é a sua principal marca.
A falta de tempo é a desculpa que mais se ouve daqueles que insistem em não obedecer ao ide do Senhor Jesus.
Ora, se digo que não anuncio o evangelho por falta de tempo, consequentemente estou dizendo que não tenho tempo para obedecer ao Senhor Jesus.
Alguns irmãos alegam não poder evangelizar, porque grande parte do seu tempo é dedicado ao trabalho; ainda outros, dizem que o pouco de tempo que lhes sobra é dedicado ao estudo ou ao lazer. Esse argumento não justifica, porque em qualquer um desses ambientes: trabalho, escola, lazer etc., o crente pode evangelizar.
Ao contrário de muitos crentes, que de tanto se ocupar com os cuidados da vida alegam lhes faltar tempo para evangelizar, ao Senhor Jesus, às vezes lhe faltava tempo até para comer e descansar (Mc 6:31), mas nunca para evangelizar (Jo 4:32,34).
Se existe uma coisa que ninguém tem mais do que outro é o tempo. Ele é do mesmo tamanho para todos, tanto para o rico como para o pobre. Deus deu a cada um de nós 24 horas por dia e 365 dias por ano. Cada um de nós administra esse tempo de acordo com nossos interesses e nossas prioridades.
A falta de tempo é a principal desculpa usada tanto pelos que que não querem aceitar a Cristo como pelos que não querem anunciar a Cristo.
A verdade é que ninguém tem tempo para fazer aquilo que não gosta, mas para fazer o que gosta, nunca falta tempo, e se porventura faltar o homem sempre arruma um jeito.
Quem não quer ter compromisso com Cristo está sempre dizendo que não tem tempo para ir à igreja; e quem não quer anunciar a Cristo está sempre dizendo que não tem tempo para evangelizar.
Tempo oportuno – Há uma outra categoria de crente que entende que a evangelização só deve ser praticada em tempo oportuno. Para embasar esse argumenta citam a passagem de Eclesiastes 3:1-8. Mas o que esses crentes entendem por tempo oportuno?
Por tempo oportuno, é entendido que se trata daquele momento em que o pecador nos pede explicações sobre alguma coisa relacionada com a Bíblia ou com Deus. Pode ser também aqueles momentos em que o pecador nos pede alguma ajuda referente a algum problema que está passando: conjugal, financeiro, doença etc. Estas oportunidades não devem ser perdidas.
Embora o tempo oportuno seja o mais favorável à evangelização, esse conceito também não é bíblico. Esse ponto de vista se baseia sempre na vinda do pecador ao encontro do crente, e nunca na ida do crente ao encontro do pecador. E o Senhor Jesus nunca ensinou que devemos esperar os pecadores virem ao nosso encontro. Ao contrário disso, ele ensinou que é nós quem devemos ir ao encontro deles. Ele não só ensinou isso, mas também deu exemplo e mandamento (Mc 1:38; 16:15; Mt 20:4).
Ainda contestando esse ponto de vista, citamos aqui as palavras de Paulo dirigidas a Timóteo: “Pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo” (II Tm 4:2). Com essas palavras, Paulo está dizendo a Timóteo que ele não dever perder nenhuma oportunidade para pregar o evangelho. E mesmo quando não houver oportunidade ele deve cria-la.
Não devemos ser como as árvores que, por falta de livre-arbítrio, só dão fruto quando o tempo lhe é favorável (Mc 11:13-21). O Senhor Jesus amaldiçoou aquela figueira, não somente porque não tinha fruto, mas porque tinha muita folha, porém sem fruto. Isso significa que ela negou a sua natureza. Pois a figueira quando tem folha, necessariamente tem que ter fruto. Folha sem fruto, significa muita exterioridade sem nenhuma interioridade (hipocrisia). Esse era o perfil do povo judeu, os quais o Senhor Jesus chamou de “sepulcro caiado” (Mt 23:27).
O crente, por ser dotado de livre arbítrio, não tem apenas uma possibilidade de ser frutífero em condições favoráveis, mas também na desfavorável. Mesmo em circunstâncias contrárias ou no ano da seca, ele não deixa de dar fruto (Sl 1:3; Jr 17:8). Pois essa é a sua natureza.
Quem fica à espera de tempo favorável para evangelizar, dificilmente fará esse trabalho, pois “quem observa o vento nunca semeará (Ec 11:4)”.
Falta de conhecimento bíblico – Alegar que não evangeliza por falta de conhecimento bíblico é outra desculpa que não exime nenhum crente da sua responsabilidade, pois a mensagem do evangelho é muito simples; ela sempre esteve ao alcance de todos os crentes que experimentaram o novo nascimento.
Eu comecei a evangelizar quando ainda era recém-convertido; ainda nem era batizado. Mas no dia do meu batismo, fui batizado junto com algumas pessoas que conquistei para Cristo.
Nenhum crente precisa ser formado em teologia para poder anunciar a Cristo. O evangelho pode ser anunciado com o mínimo de conhecimento possível que cada crente possui.
Nenhum crente do Novo Testamento possuía qualquer formação teológica, mas todos eles, por onde andavam, anunciavam o evangelho do Senhor Jesus Cisto (At 8:4).
Quando sente – Há quem diz que só prega o evangelho quando sente. Existe até uma denominação que faz disso uma doutrina. São verdadeiros parasitas da fé; vivem somente do proselitismo, colhendo o que outros semearam. Mas quem colhe o que não semeou é ladrão.
Os membros dessa denominação não testificam de Jesus para os pecadores, mas quando tomam conhecimento de que um pecador se converteu a Cristo, pela pregação de algum crente de outra denominação, imediatamente eles se prontificam a aliciá-lo, fazendo pesadas críticas contra a denominação que o novo convertido começou a frequentar.
A principal arma usada pelos membros dessa denominação é falar contra a entrega do dízimo; alegando que essa prática é do Antigo Testamento, e contra o título de pastor; alegando que só Jesus pode ser chamado de pastor.
Eu nunca li em qualquer parte do Novo Testamento onde diz que devemos pregar o evangelho só quando sentimos, nem que os primeiros cristãos tinham esse procedimento.
Que seria daqueles funcionários que só trabalham quando sentem? Não seriam demitidos pelo patrão? A quem devemos maior obediência, ao nosso patrão ou ao Senhor Jesus?
Falta de motivação – O que muitos chamam de falta de motivação, na verdade, é falta de vontade; mas também pode ser falta de entusiasmo e de conscientização. São aqueles crentes que ainda não foram despertados para a urgência missionária. Para que esses crentes sejam despertados é necessário que seus dirigentes também se despertem, criando na igreja, atividades que envolva a evangelização, tais como, seminário, palestras, premiação para quem ganha mais almas para Cristo etc.
RECOMPENSAS DE QUEM ANUNCIA O EVANGELHO
Embora não devamos anunciar a Cristo a espera de recompensas, porque, por mais que façamos devamos nos considerar “servos inúteis” (Lc 17:10), mas Deus galardoa os trabalhadores da sua seara.
O louvor de Deus a quem se dedica a proclamar as boas novas de salvação começa no Antigo Testamento. Em Isaías 52:7, lemos a seguinte profecia: “Quão formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação”.
Ao lê esta profecia posso imaginar o Senhor Jesus e seus discípulos escalando os montes da Judéia, da Galiléia, do Planalto de Gileade em demanda de almas perdidas. Faz-me lembrar também de Paulo e seus companheiros, escalando íngremes montanhas em sua expedições missionárias nas longínquas plagas do império romano, anunciando as boas novas do evangelho.
Num ato profético o salmista canta: “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Sl 126:6). O mesmo Espírito que inspirou o salmista para escrever esse poema, também inspirou Paulo para declarar: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (I Co 15:58).
No elenco dos autores do Novo Testamento, é Paulo quem protagoniza no ensino dos galardões. Ele dedica o capítulo nove da sua primeira Epístola aos Coríntios somente ao ensino sobre as recompensas de quem se dedica ao serviço do evangelho. No Capítulo 3:8, ele conforta o que semeia e o que rega com as seguintes palavras: “Cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho”; e do versículo 13 ao 15, ele diz que o fogo revelará a veracidade das nossas obras. Isso significa que não basta fazermos a obra de Deus, mas fazê-la sem esperar ovações humanas (Mt 6:2).
Ainda em Filipenses 4:1 e I Tessalonicenses 2:19-20, ele declara que as almas que ele conquistou para Cristo são para ele “coroa de gozo”. Isso significa que, como Paulo, no final da jornada, todos os conquistadores de almas serão coroados de gozo.
Esquecido por todos, numa cela fria, escura e húmida, pressentindo seus momentos finais, Paulo escreve à Timóteo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.” (II Tm 4:7-8).
Paulo, que tanto exaltou a fé em detrimento das obras, agora olha para trás e reconhece que a fé é muito importante, mas os galardões serão recebidos pelas obras (Ap 22:12).
Devemos Ir Às Almas Perdidas, Não Esperar que Elas Venham a Nós
No ministério do Senhor Jesus encontramos apenas um trecho onde ele convida as pessoas a virem a ele (Mt 11:28), mesmo assim ele não se referia a uma vinda física, mas a receptividade. Nunca li, na Bíblia, onde Jesus ordenou que orássemos para que ele nos enviasse as almas perdidas para, de nós, ouvir a sua Palavra. Não sei de onde alguns obreiros tiraram essa ideia, mas já ouvi, de alguns, a seguinte oração: “Senhor envia-nos os pecadores para ouvir a sua palavra”. Embora seja contundente essa declaração, mas quem ora assim, deveria se envergonhar da sua inércia.
Se o Senhor Jesus esperasse a samaritana vir ao seu encontro para sorver dos seus lábios a água viva, ela teria morrido de sede sem nunca beber da água espiritual. Se ficarmos acomodados em nossos templos à espera dos pecadores para ouvir nosso discurso evangelístico, podemos ter certeza de que ainda não entendemos nossa missão. Com essa declaração não estou dizendo que devemos mudar o nosso programa de evangelização, mas que nele, devemos incluir o método bíblico.
Concluo essa reflexão, desafiando nossos pastores a resgatar o método e o entusiasmo dos crentes do Novo Testamento na missão de evangelizar os pecadores perdidos. Pois a evangelização em massa suprimiu de tal modo a evangelização pessoal que hoje em dia, é muito raro ver crentes falando de Jesus, fora das estreitas clausuras das suas igrejas.
Oremos, não para Deus nos enviar os pecadores, mas para que ele derrame sobre nós um grande despertamento para obedecermos o ide do Senhor Jesus, a fim de buscar as almas perdidas no seu próprio ambiente.
Pr. Espedito Marinho